Há algumas semanas estou confinada, já perdi as contas dos dias.
Estou lendo Ensaio sobre a Cegueira, do Saramago. Tenho lavado muita louça, cozinhado as refeições, cuidado da casa, cuidado da família. E dormido bastante. Não tenho exigido de mim os exercícios postados pelas blogueiras, nem os cursos gratuitos oferecidos pelas universidades.
Tenho respeitado meu tempo. Minhas vontades. Minhas necessidades. Uma coisa que desde a minha infância acho que não exercia.
E diante de toda essa loucura, desse estado insano e ao mesmo tempo maravilhoso que tenho vivido, tenho desenvolvido em minha mente diversas teorias do motivo do planeta ter recebido esse presente às avessas.
Uma delas dá conta de que não dava pra continuarmos a viver como estávamos vivendo. À beira do estresse, gritando com estranhos no trânsito, exigindo que a temperatura do pingado da padaria estivesse exatamente no ponto ideal. Perdendo o sono por dívidas que fazemos com coisas que não precisamos. Comendo mais que o necessário, poluindo absurdamente, produzindo entulhos indiscriminadamente, olhando os semelhantes necessitados com os olhos cegos, morrendo um pouco mais a cada dia vivido. Alguma coisa tinha que ser feita, é chegada a hora de parar.
E só uma força maior teria esse poder. Ou a volta de Jesus à Terra, ou então uma pandemia. Infelizmente veio a segunda. Talvez porque a primeira, lançada à nós há 2.020 anos, não tenha infelizmente conseguido contagiar a todos da mesma forma que um vírus conseguiria. O nosso egoísmo é tão grande que a única coisa que nos faz parar, e ainda assim não a todos, diga-se de passagem, é a possibilidade de adoecer e perder a vida.
Desta forma, as praias estão vazias, os restaurantes e lojas estão fechados, e na mesma proporção hospitais e cemitérios começam a ficar lotados.
Procuro desesperadamente encontrar algo de bom em tudo isso e então vejo a natureza se refazendo a cada dia em várias partes do mundo. Vejo carros nas garagens e fábricas fechadas. Vejo pessoas mais abastadas se mobilizando e ajudando as mais humildes. Vejo a solidariedade como há muito não via. Pessoas comuns fazendo máscaras para doar, arrecadando e distribuindo comida, aplausos e orações.
O medo em muitos momentos, toma conta de mim. Temo pela minha mãe, pelos meus filhos. Muitas vezes acordo de manhã e procuro recobrar a consciência, me perguntando se a pandemia não fora somente um pesadelo. Entristeço quando percebo que não. E em mais um eterno domingo percebo que vou passar mais um dia.
Hoje li que o pico da pandemia se aproxima ao meu país. O medo voltou. Resolvi tomar sol na varanda e ler. E depois de dezenas de páginas lidas, uma vontade grande de escrever me voltou. Como há muito tempo eu não tinha. Procurei então a antiga senha do meu bloguinho. Fiz o acesso e aqui estou: Giovana, com 44 anos, mãe do Lucca de 12 anos e da Sofia de 7 anos. filha da Beth, esposa do Fabricio. Que saudades eu estava... #quarentena #pandemia #gielucca #nascendoumamae