Antes da Sofia nascer, ganhei de uma leitora do blog (que virou amiga e engravidou praticamente junto comigo), a Rosane Maia, um livro da Laura Gutman - A Maternidade e o Encontro com a Própria Sombra.
Esse livro deveria ser leitura obrigatória para grávidas de primeira ou segunda, ou terceira viagem. É profundamente esclarecedor e faz a gente se identificar em vários momentos, sentir como se aquelas palavras fossem escritas para nós.
Em um certo capítulo, Laura fala sobre o pós-parto. Ela lembra que nas sociedades antigas as mulheres se encarregavam comunitariamente da criação das crianças, enquanto os homens se ocupavam da busca pelo alimento. Nós tínhamos sempre a presença de outras mulheres. Vivíamos juntamente com nossas mães, irmãs, primas, tias. A assistência era algo corriqueiro, porém, extremamente necessário.
Hoje, porém, nós mulheres modernas e urbanas temos outra realidade social. Vivemos em famílias nucleares, em apartamentos pequenos, muitas vezes afastadas de nossas famílias primárias. E embora tudo nos leve a pensar que isso faz parte da liberação feminina, trata-se de uma armadilha, já que muitas vezes não temos condições de decidir nada. As coisas são assim e pronto!
No pós-parto, naturalmente, nos sentimos mais sozinhas pela situação em si. E não ter mais ninguém, fora o marido, pode trazer a tona o desespero diante a impossibilidade de cuidar do bebê quando outro filho exige atenção, a comida queima no forno, o telefone toca e vem a vontade de fazer xixi.
A idéia principal passada por Laura é que uma mulher puérpera não deve ficar sozinha por muito tempo. Precisa de assistência, de companhia e da disponibilidade de outra pessoa que não interfira nem abuse de sua autoridade, que não a julgue nem se intrometa, mas que esteja presente. Que se encarregue das tarefas delegáveis (cuidar dos filhos maiores, cozinhar, limpar, lavar roupas, arrumar a casa, etc.) e tenha a capacidade de atender as necessidades sutis de uma mãe com um bebê nos braços.
E ela diz ainda que dentro de nossa estrutura social muitas mulheres acreditam que cabe delegar ao homem essas obrigações, transformando-o num "pai moderno". No entanto, não é essa a tarefa primordial que torna o funcionamento familiar equilibrado. A esposa pede ao marido o que ele não está disposto a dar e ele, por sua vez, exige que a mulher tenha mais disponibilidade para recebe-lo a noite com alegria e carinho.
Isso nos faz constatar que um pai e uma mãe não bastam para cria um filho. Essa idéia pode parecer extravagante mas fomos desenhados para viver em comunidade, como a maioria dos mamíferos. E toda mulher puérpera precisa de apoio afetivo e isso não é um luxo. É uma prioridade.
Então, como agir diante disso?
Bom, no meu caso, minha ficha caiu nos últimos dias. Minha mãe sempre me ajudou muito com o Lucca, me fazia companhia, me dava idéias, opiniões e se fazia presente. Porém, após o nascimento da Sofia, eu estava tão bem que acreditei que daria conta de tudo sozinha. Enfrentei três semanas recebendo minha mãe praticamente como uma visita, sem aceitar muita ajuda, de forma totalmente inconsciente, que fique claro!
No entanto, na última semana, quando a Sofia realmente fez sua opção por amar ficar acordada na madrugada e o Lucca por amar brincar durante doze horas seguidas durante os dias de férias, percebi que não dava.
Sou humana, tenho minhas necessidade básicas a cumprir como comer, mesmo que em pé, tomar banho com tempo suficiente de ao menos passar desodorante em seguida, fazer xixi e cocô, e dormir, nem que seja em horas fracionadas e em qualquer horário do dia.
Sim, eu preciso de ajuda, diagnostiquei.
Conversei, aos prantos, como uma digna puérpera, com minha mãe e ontem ela veio dormir aqui em casa.
Ficou com o Lucca e com a Sofia e eu consegui fazer uma escova no cabelo e passear com o marido, inclusive com direito a me maquiar para sair. Quando voltamos, dei mamar para a Sofia, cuidei do Lucca e, pasmém, fui dormir!
Minha mãe ficou com os dois. O Lucca dormiu logo depois e ela o levou para o quarto. Ela me chamou três vezes durante a madrugada/manhã para amamentar e só. Ela fez a minha boneca arrotar e dormir e eu pude descansar. Acordei uma nova mulher, às 10:30h da manhã!
Sei que existem muitas mulheres que não tem esse apoio e passam por momentos difíceis, sozinhas, e conseguem vencer. Conseguir a gente consegue, não duvido disso. Mas, sem apoio, tudo é muito mais doloroso.
Eu assumi que preciso de ajuda! E graças a Deus tenho minha mãe que mais uma vez se fez presente e me ajudou muito. E foi embora com a promessa de cumprir uma "escalinha", para retornar outros dias e noites, conforme ela puder, até que eu consiga me estabilizar.
Quem não tiver a mamãe ao seu lado, vale apelar para a sogra (a minha me ajudou bastante com o Lucca também!), a irmã, uma grande amiga ou uma vizinha. A presença não precisa ser contínua e constante. Basta saber que podemos contar com alguém para momentos difíceis e pronto. A coisa já melhora...
Que o Papai do Céu guarde essas nossas Mães de Ouro num lugar muito especial e que proteja e dê alento àquelas mulheres que não tem essa figura tão importante ao seu lado.
8 comentários:
Pois é Gi, isso é uma grande verdade, a Laura também me ajudou a compreender este aspecto e também a entender o motivo da minha depressão pós-parto no nascimento do Gustavo. Eu não tive suporte em nenhum dos meus partos. Talvez eu seja excessão, mas é preciso entender que nem todas as pessoas tem esse apoio, infelizmente. Minha mãe não me deu esse apoio e muito menos a sogra. Não basta querer, é preciso ter as pessoas reais na sua vida para que isso possa ocorrer. Embora sabendo que isto é o melhor, nem sempre é o possível. Se quiser ler mais sobre o meu pós-parto, te faço o convite para ler o meu blog privado. Bjs
Concordo! Estou com 8 meses de gestação e infelizmente não tenho mais minha mãe amiga,e ja sofro muito com isso pressão la nas alturas pois é um mundo novo cheio de medos muita ansiedade ;mas crio que o melhor de Deus ainda esta por vir =) Felicidade e muitas bençãos com as crianças .Bjim
Oi, engraçado como acontecem "coincidencias" na vida...
Acompanho teu blog faz um bom tempo, fiquei feliz qd soube da Sofia, até dei minha opinião sobre as tuas preocupações sobre o parto. E em Outubro devo ter meu terceiro bebê, aqui em casa serão 3 meninos! E dias desses estava pensando se procurava alguém para me ajudar após o nascimento ou não, já que consegui sobreviver a um pós parto com cesariana da última vez junto com uma crise de ciúmes enorme do primogênito. E te confesso que não tenho esse apoio tão necessário de uma mãe ou irmã e muito menos de sogra, já que essa é um amor desde que não tenha que se comprometer com nada. E dai vejo esse texto que tu escreveu e as coisas mudaram, acho que preciso sim de ajuda e vou procurar, nem que seja com uma pessoa que receba um salário por isso...
Somos capazes sim mas pq não aceitar ajuda né?!
Pra mim foi essencial essa tua opinião, obrigada!
Um grande abraço e felicidade sempre!
Oi Erica, que legal seu comentário. Menina, pela amor de Deus! Começa sim a procurar alguem...rs! Três deve ser uma loucura mesmo. Acho que é bem isso que eu escrevi. A gente consegue dar conta sim mas as vezes, a coisa se torna dolorosa demais, cansativa, estressante. Então, se há uma oportunidade de ajuda, agarre! Um beijo e dê noticias!
oi Gi! Primeiro parabéns pela linda Filhinha... te acompanho desde da gravidez do Lucca, mas nem sempre tenho um tempinho pra postar um comentário. O meu Caio já vai fazer 4 anos e agora que a vida tá dando uma estabilizada, é muita coisa mesmo pra gente hoje em dia. Antigamente nossas mães não trabalhavam fora, viviam somente para os filhos, marido e casa. Hoje temos uma jornada bem diferente: trabalho, faculdade, casa, filhos, marido.... é difícil mesmo. Ainda bem que temos nossas mães pertinho da gente pra ajudar nas horas de aperto. Beijokinhas pra vcs 4. Até, DRI
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